Joana d'Arc/Maria Falconetti por Vinicius de Moraes

Para mim Joana d'Arc tem o rosto de Falconetti, a cabeça de Falconetti, os olhos de Falconetti.
Image Hosted by ImageShack.us
A imagem de Joana d'Arc me perseguia, naqueles monumentais fundos brancos. Nunca haveria outra.
Esperando-a, no salão do Copacabana, senti-me extraordinariamente confuso. "Daqui a um instante", pensava eu olhando o elevador, "aquela porta vai se abrir, e Joana d'Arc vai surgir dali, as mãos nas soleiras, a indumentária simples de combate, um cinturão rústico, umas botas de cano curto ajustando as calças coladas, a cabeça quase raspada, os olhos dolorosos, o rosto transportado…" E os grandes detalhes silenciosos, lentos, do filme de Dreyer foram voltando, em sua plástica primitiva, como num poderoso mural.
Image Hosted by ImageShack.us
Fiquei para jantar com ela, quem não ficaria? E foi ao jantar que ela me contou sobre o filme, de como um dia lhe haviam batido à porta e entrara esse homem que se sentara a seu lado, conversara meia hora com ela e lhe dissera que nunca faria a sua Joana d'Arc com outra mulher, embora tivesse compromissos para um teste com a própria Pitöeff. E de como realmente a ocasião chegara, e Dreyer lhe falara do que ia ser o seu filme: o momento supremo de uma criatura, o quadro fundamental de uma vida de mulher. Não amava especialmente a Joana d'Arc. Queria, sim, revelar uma mulher. Para isso precisava de toda a sua atenção, de toda a sua dedicação, de sua renúncia absoluta. Fê-la chorar como experiência. E avisou-lhe que ela precisaria viver chorando, que não veria ninguém, que só trataria com ele, que precisaria da sua obediência absoluta...
Image Hosted by ImageShack.us
o resto aqui
o filme